Autores: Maria Helena Steffani (Instituto de Física e Planetário da UFRGS), Cláudia Vicari Zanatta (Instituto de Artes da UFRGS) Palavras-chave: ensino de astronomia, inclusão social, produção de material didático, deficientes visuais Apesar do enorme interesse despertado pela Astronomia na população em geral, o ensino dessa ciência tem sido falho em todos os níveis da formação educacional. Esse cenário é ainda mais grave no que diz respeito aos desafios enfrentados por escolas e espaços de educação não formal, como museus e planetários, no tocante à inclusão social de grupos com deficiência auditiva ou visual. São raros os profissionais com formação para atender essas demandas específicas e, muitas vezes, o próprio espaço físico não é adequado. Ademais, os recursos didáticos disponíveis pouco auxiliam na aprendizagem dos deficientes, especialmente na área científica. Os planetários têm importante papel na divulgação da Astronomia e recebem públicos muito diversificados, tanto em faixa etária (4 a 80 anos) quanto em níveis de escolaridade (infantil ao superior), além de atender demandas de grupos com necessidades especiais, terceira idade e outros. Um grupo de deficientes visuais que participam de um projeto de produção artística em cerâmica no Instituto de Artes (IA), da UFRGS, em visita ao Planetário desta Universidade, ouviu o áudio do programa “Jornada no Sistema Solar” e participou de uma atividade interativa intitulada “A Terra como um grão de pimenta”, que explora a representação, em escala, dos tamanhos dos planetas e das distâncias entre suas órbitas. O grupo manifestou enorme interesse sobre diversos tópicos de Astronomia, sendo um deles a Lua, como exemplificado pelas questões a seguir. Como é a superfície lunar? É verdade que a Lua apresenta sempre a mesma face virada para a Terra? E como é a face oposta? Por que ela exibe fases e o que isso significa? Qual é a aparência diária da Lua? Para tratar essas e outras questões de forma significativa para os deficientes visuais são necessários recursos didáticos específicos, não disponíveis no mercado. Com o objetivo de criar materiais de apoio didático para deficientes visuais realizamos encontros semanais com o grupo no Atelier de Cerâmica do IA, dando continuidade às discussões sobre a Lua e realizando experiências diversas. A metodologia de trabalho implica que os próprios deficientes visuais participem na elaboração dos materiais didáticos, a partir de uma percepção diferenciada. A preocupação do grupo em “ver” a aparência da Lua diariamente no céu originou a confecção de um calendário lunar, com a Lua em cerâmica tendo a parte iluminada da sua superfície destacada pelo uso de tinta texturizada, facilitando a percepção tátil. Uma das atividades para simular a formação de crateras na superfície lunar consistiu em jogar, sobre uma placa de argila, materiais diversos (pedras, bolas de gude, etc), os quais formaram “crateras” de formas e tamanhos diferenciados na placa. As fases da Lua foram demonstradas através da percepção tátil de um modelo do sistema Sol-Terra-Lua em madeira. Com um foco interdisciplinar, este trabalho de elaboração de material didático para o ensino de Astronomia a deficientes visuais, alia o ensino não formal de Astronomia praticado no Planetário com as competências e habilidades desenvolvidas pelos deficientes visuais em oficinas de criação artística no Atelier de Cerâmica do IA, UFRGS. Arquivo do Trabalho:
I SNEA – Atas
ASTRONOMIA COM ARTE: ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO A DEFICIENTES VISUAIS (CO31)