Carta de apoio ao diretor do INPE

A Diretoria da Sociedade Astronômica Brasileira vem a público para declarar seu apoio ao Diretor do INPE, Dr. Ricardo Galvão, bem como ao corpo técnico do INPE em face à recente polêmica envolvendo o governo federal e a divulgação de indicadores acerca do desmatamento na Amazônia produzidos pelos programas de monitoramento sistemático deste instituto.

O INPE é reconhecidamente a instituição brasileira mais capacitada ao tratamento de dados de sensoreamento remoto. Sua experiência nessa atividade acumula mais de 40 anos de pesquisa sistemática, o que por si só já merece atenção cuidadosa.

Preocupa-nos ainda o modo com o qual diversas estruturas do governo federal vem desprezando ou diminuindo as informações e dados colhidas pelos Institutos Federais de Pesquisa e Universidades Públicas, enxergando motivações ideológicas em todos aqueles recortes da realidade que não corroborem sua própria visão de mundo. Dados não comportam viés ideológico, especialmente séries históricas, calcadas em uma mesma metodologia, reconhecida por organismos internacionais e referendada por medições independentes, como é o caso das medidas de desmatamento realizadas pelo INPE com base nos satélites espaciais.

Governos anteriores já descuidaram da devida atenção ao Meio Ambiente. Todavia, o atual aumento na taxa de desflorestamento surge como consequência direta das políticas implementadas pela atual gestão, que vem concedendo permissão para mineração em áreas indígenas, flexibilizando demasiadamente a concessão de licenciamentos ambientais, sucateando órgãos de defesa ambiental e promovendo alterações no Código Florestal. O problema torna-se agudo neste até mesmo pela total falta de diálogo dos ministérios com a sociedade científica.

Os dados coletados pelos cientistas do INPE mostram uma realidade que não deve ser escondida, por impactar a vida de toda a sociedade, e não apenas no Brasil. A destruição do ecossistema amazônico levará ao colapso a estabilidade climática na América do Sul, aumentando drasticamente a estiagem no Sudeste brasileiro, onde se encontram boa parte dos reservatórios hídricos. Além da perda irreversível da diversidade biológica, corremos o risco concreto de condenar o futuro socio-econômico da região mais próspera do país.

Exortamos o Governo Federal e seus representantes a deixarem de lado suas preconcepções sobre a realidade e atentarem aos dados produzidos pelos acadêmicos e pesquisadores que se especializaram em suas respectivas áreas. A interpretação ideológica da realidade não pode fugir das evidências coletadas na natureza e na sociedade. O sucesso das políticas públicas depende da observação constante dos indicadores socio-econômico-ambientais produzidos pelos órgãos competentes, por pessoal qualificado.

E, finalmente, repudiamos profundamente que o resultado final dessa questão já se configura como uma intervenção no INPE, com a demissão nesta sexta-feira, dia 2 de Agosto, do Diretor Ricardo Galvão.

Diretoria da Sociedade Astronômica Brasileira



One comment

  • Otavio de Andrade Maia

    24 de setembro de 2019 at 17:13

    Lamentável ver esse cenário em pleno século XXI!

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