John A. Tully, in Memoriam

28 de março de 2022 by Helio Jaques Rocha-Pinto0

Faleceu recentemente na França, onde morava, John A. Tully. Ele foi um dos pesquisadores estrangeiros que vieram ao Brasil com José Antônio de Freitas Pacheco em 1971, e que colaboraram com a formação do Departamento de Astronomia do IAG. Em homenagem à sua importância para a consolidação da Astronomia Brasileira, reproduzimos abaixo um texto escrito por nosso colega e sócio fundador.


John A. Tully, em 1971

John Alexsander Tully, físico inglês naturalizado francês e “brasileiro de coração”, faleceu em Paris no
dia 3 de março de 2022. Especialista em física atômica, John foi formado pela escola de Mike Seaton e Alan Burgess vindo, em fins dos anos sessenta, se instalar no então Observatório de Nice, no grupo de física atômica liderado por Oleg Bely. Foi nessa época, durante a preparação de meu doutorado, que conheci John e outros membros da equipe de física atômica, como Daniel Petrini, os quais, mais tarde, viriam ao Brasil dar uma contribuição ao desenvolvimento da Astronomia brasileira.

Por ocasião de meu retorno ao Brasil em 1971, a criação do Departamento de Astronomia do IAG estava dependendo da existência de um certo número de pesquisadores distribuídos em pelo menos 3 categorias docentes. Assim, a solução encontrada foi convidar pesquisadores estrangeiros para virem a São Paulo. Graças a um auxílio concedido pela Fapesp, pesquisadores de Nice como Jean Lefèbvre, John Tully e Françoise Le Guet vieram a São Paulo, propiciando a constituição de um quadro docente de acordo com a regras da USP e permitindo a criação do Departamento de Astronomia.

Durante sua estadia em São Paulo, John ministrou vários cursos na nossa incipiente pós-graduação, em particular em Mecânica Quântica, destacando os processos de excitação de átomos em nebulosas planetárias e a física de gases ionizados rarefeitos. John estimulou vários grupos de física atômica no Brasil, como o da PUC do Rio de Janeiro nos contatos mantidos com Humberto Brandi. Orientou em São Paulo a tese de Manoel Serrão que, mais tarde, desenvolveria pesquisas naquela área na ilha da Madeira, de onde era nativo. John era um apaixonado pelo Brasil, tendo aprendido nossa língua, lido inúmeras obras brasileiras e sobre o Brasil, procurando sempre manter-se informado sobre a situação do país mesmo após seu retorno à Europa. Sempre que nos encontrávamos, em pouco mais de 50 anos de amizade, discutíamos um pouco em português.

Rememoro aqui que, além de John, os outros “niçois” tiveram um papel significativo no desenvolvimento do Departamento de Astronomia. Lefèbvre iniciou o projeto de criação de um laboratório para simulações da poeira cósmica, iniciativa continuada por Said Codina e que levou à formação de pesquisadores como Antônio Mario Magalhães e José Alberto Marcondes Machado. Françoise Le Guet colaborou comigo no projeto de difusão de raios cósmicos na Galáxia, tema que havia iniciado no Brasil ainda como estagiário de César Lattes e que mais tarde desenvolveria em minha própria tese de doutoramento. Outros membros do grupo de física atômica de Nice vieram posteriormente ao Brasil, como Oleg Bely, que ministrou vários cursos
na PUC-Rio e Daniel Petrini, que realizou estágios no Observatório Nacional e no IAG. O desaparecimento de John Tully representa uma perda não somente para sua esposa, Françoise Le Guet-Tully, seus filhos e netos, para todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo e com ele conviver, mas também a perda de um dos personagens que contribuíram para a criação e o desenvolvimento do Departamento de Astronomia do IAG/USO.

J. A. de Freitas Pacheco
Nice, 24/03/2022